sábado, 17 de novembro de 2012

Abaixo à hipocrisia

Hoje não venho vos falar por um bom motivo. Vim desabafar porque estou furiosa. Em fúria.

Só tem uma coisa que odeio mais que incompetência, hipocrisia.


Eu não posso dizer muito sobre isso, porque tenho meu lado hipócrita. É uma lembrança que ainda não consegui superar. É muito difícil perdoar pessoas que

magoam quem amamos. É mais do que difícil, é quase impossível eu diria. Por amor, o ser humano comete as maiores loucuras afinal. Admito que

não sou uma pessoa completamente santa, tenho falhas, e como tenho! Sou católica, mas primeiro sou humana.

Só que... existem alguns tipos de hipocrisia que são inimagináveis. Daqueles que não atravessam a sua garganta. Você tem alguém em sua vida, uma pessoa que

considera um irmão. Seu irmão lhe trai. Tira o seu chão, taco a taco, recusa-se a olhar na tua cara, e faz com que os filhos deles façam o mesmo. E você, em

seu sofrimento amargoso fica doente e quase morre. Mas, ele lhe pede perdão um dia. E você perdoa! Que feito! Eu mesma não teria conseguido. No dia seguinte,

você - crsitão fervoroso, que não desgruda da televisão que passa seus programas religiosos nem por um segundo sequer - deixa de ser cumprimentado por uma

pessoa, mergulha no seu mais profundo sentimento de orgulho e recusa-se a falar com ela. Você é um hipócrita.

Você reza todos os dias, ajoelha-se no seu altar, ergue as mãos para o céu e ouve o padre da missa falar sobre amor ao próximo e que deve dar a outra

face, mas crê que um homossexual não pode ter os mesmos direitos que um ser humano qualquer. Ou, ainda pior, não possui um pingo de humildade para admitir

que está errado. Ou que não consegue, nem sei se ao menos tenta, perdoar. Você é um hipócrita.

Eu não vou todos os domingos à missa. Nem prego religião aos quatro cantos do mundo. Mas, eu tento todos os dias ser um pouco melhor do que o dia anterior.

Às vezes conquisto progresso, outras, regresso. A minha visão de mundo, a minha fé e a minha religião se baseiam no BEM. O bem que eu posso fazer hoje, o bem

que eu posso fazer amanhã, o bem que eu posso fazer pro meu próximo e pro nosso mundo.

Crença é uma filosofia de vida que não permite contradições. Se você odeia mentiras e mente, além de hipócrita você é um nada, porque a fé move o ser humano.

A fé na vida, a fé em si e nos outros, a fé no amor. Eu creio em um mundo civilizado onde as pessoas possam se tratar com respeito apesar das suas

diferenças. E respeito não quer dizer o mesmo que admiração, não em todas as suas ocorrências.

Minha hipocrisia é a minha ira incontrolável. Eu prego o bem, mas posso machucar muitas pessoas sem intenção.

É que às vezes é dificílimo ficar calada.

domingo, 9 de setembro de 2012

Ah... A fama.

Eu me lembro bem de quando, ainda pequena, fazia entrevistas comigo mesma no chuveiro, fingindo que era uma atriz estrangeira famosa. Inventava palavras falando um inglês inexistente e a minha mão era o microfone de vários repóteres imaginários. A fama era um sonho meu à época.

Um dia, navegando pela internet, vi uma foto da atriz Emma Watson, cuja personagem em Harry Potter é Hermione Granger, que me chocou. Terminados todos os filmes da série, ela cortou suas longas madeixas tão, mais tão curto quanto o cabelo de um menino. O preço para se livrar, ilusoriamente, de uma personagem.

No outro, eu estava na fila pra pagar o pão quando vi na televisão de anúncios uma foto da atriz Carolina Ferraz com a seguinte legenda: a fama é uma droga, é destrutiva, não existe nada que venha dela que seja positivo. Isso também me chocou. Eu pensei que nunca tinha visto alguém falar abertamente sobre o lado incômodo da fama.

Na sexta-feira passada eu fui à um encontro de ex-alunos do meu colégio, de várias épocas. Surpreendentemente, Zélia Duncan é uma. Nesse dia quem ficou incomodada fui eu. Ela não pôde fazer uma visita normal, é óbvio. Foi constantemente assediada, sem que pudesse, nem por um minuto sequer, refletir sobre sua nostalgia.

O pior é pensar que muitos deles, os famosos, são julgados mal-humorados ou mal-educados porque são socialmente obrigados a ser simpáticos o tempo todo. Imagina você ter que fazer as compras do supermercado e não conseguir porque as pessoas querem autógrafos e fotos? É uma balança muito difícil de ser equilibrada.

Talvez a fama seja como os raios de sol na superfície de um mar ou lago. O reflexo é belíssimo pra quem vê, mas os raios se enfraquecem debaixo d'água. E quanto mais fundo, mais escuro fica. Ou como uma máscara, que por mais linda que seja, com o tempo pesa no rosto.

É fácil perceber que, no meio artístico, ser reconhecido pelo seu trabalho é intimamente ser atrelado à fama. Todo mundo ouve falar que a fama tem um preço, mas desconhece-o até ter que pagá-lo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Uma carta apaixonada

Eu me lembro perfeitamente da primeira vez que eu te vi. Você fazia uma careta por causa da luz forte no seu olho, e mesmo assim te achei a criatura mais fascinante que meus olhos já pudessem ter visto. Foi amor à primeira vista. Me apaixonei tão perdidamente que meu corpo, meu coração e minha mente já não pareciam mais meus.

Eu me lembro da primeira vez que você me beijou. Um beijo tão singelo, tão puro, que acelerou as minhas batidas e borboletou a minha barriga. Era a felicidade que me dominava. Nunca na vida achei que pudesse conhecer um amor assim, que a gente sente tender ao infinito.

Eu lembro de cada toque, de cada sorriso, de cada olhar, de cada abraço seu. O mundo parecia deixar de existir à minha volta quando eu te tinha nos meus braços, adormecido. O seu amor me tornou uma pessoa melhor e exigiu de mim paciência, sabedoria e serenidade.

Filho, eu sinto tanto a sua falta. Os anos se passaram, mas o tempo ficou parado pra mim. A saudade é a mesma e a sua lembrança é presente. No passado eu tentei deixar a dor e a tristeza, mas tem dias que elas me acompanham. Meu anjinho, eu te amarei eternamente.

Um beijo, papai.




Nunca tive filhos. E nem sei o porquê, mas sempre penso nos pais que perderam os seus. Não sinto a dor deles, mas sinto tristeza ao pensar que o ser humano pode conhecer essa dor. Ter Deus no coração é essencial para sobreviver à vida terrena.

domingo, 12 de agosto de 2012

Minha borboleta e eu


Não sei por que motivo comecei a divagar sobre minha tatuagem hoje. Nunca escrevi um texto sobre minha borboleta azul. Muitos não entendem o por quê de uma tatuagem, mas a verdade é que só uma pessoa precisa dessa explicação: a gente mesmo.

Sempre fui apaixonada por tatuagens, das mais simples, confesso. Não julgo quem tatua partes inteiras, mas o que mais me encantava mesmo eram as pequenas, ou as que continham algum significado. Papai tem um cavalo alado que eu adoro tatuado nas costas. Mamãe fez a dela, um beija-flor, depois que eu nasci. Fiquei encantada com as cores do pequeno voador. Desde que me entendi por gente afirmava que um dia teria uma. Chegado os meus quinze anos, eu insisti tanto, mas tanto, que meus pais acabaram vencidos pelo cansaço. Mas não sem antes muito diálogo do tipo: é pra vida toda, cuidado, faça bem a sua escolha.

Eu sempre dizia que ia tatuar um golfinho, porque os achava lindos. Com a certeza de que poderia fazer uma tatuagem em mãos, decidi repensar a minha escolha. Um dia, sentada em frente a uma biblioteca vi uma borboleta voando. Num piscar de olhos ela sumiu. E em outro, reapareceu. Lembrei de muitas pessoas falando sobre como eu mudava rápido de assunto em uma conversa. Até eu mesma já pensava isso de mim: um turbilhão de pensamentos numa fração de segundo. Como o voo da borboleta. Inquieto e agitado, como meus pensamentos e eu mesma.

Num outro dia, estava passeando numa trilha em um clube e me deparei com uma borboleta de asas marrons pousada numa pedra. E eu pensei: nossa, que borboleta feia. Qual não foi a minha surpresa quando ela alçou voo, ao abrir as asas revelou um azul escuro belíssimo, como eu jamais tinha visto. Eu pensei que também era assim. Tem dias que eu me sinto horrível, mas em outros me sinto bonita. E pensei que é o interior que vale, não a aparência.

Por fim, vi uma cena em que uma personagem dizia que a borboleta é o símbolo da superação. Ela tem que passar por muitas fases até chegar a ser o que é. Eu tive que passar por muitas fases atė chegar a ser o que sou. E todos os dias tenho que aprender mais a me aceitar, a me superar.

Minha borboleta é parte de mim e tem asas como a tatuagem dos meus pais, que certamente são os maiores responsáveis pela minha superação de todo dia. Asas que foram me dadas para alçar voos inacreditáveis.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Amargurado

Um velho bêbado, de barbas brancas e chapéu cobrindo os olhos, roncava na calçada em frente à loja. Suas galochas pretas estavam furadas e tinha consigo uma garrafa vazia. Na cidade pequena todos sabiam quem ele era, mas nunca abria a boca para dizer nada a não ser: uma garrafa de vodca, por favor. Todas as noites repetia as mesmas palavras e a mesma rotina.

Certo dia, ao invés de dormir em frente à loja como sempre fazia, dormiu num banco em frente ao píer. O cheiro do mar lhe era agradável, nessa noite nem bebeu a garrafa toda. No primeiro raiar do sol os filhos dos pescadores já brincavam na orla. Acertaram-no em cheio com uma bola. O velho acordou grunhindo de raiva e cravou as unhas afiadas na bola, estourando-a. Todos os meninos correram assustados, menos Theo. Observou atentamente cada ato daquele senhor, e disse:

T - Desculpe senhor Marujo, foi sem querer.

O velho não esboçou reação alguma. Theo se aproximou.

T - Ouvi painho dizer que amargura mata. Era de ti que ele falava.

Theo saiu correndo. Uma lágrima escorreu dos olhos azuis pela pele envelhecida até chegar ao bigode branco. Senhor Marujo sussurrou:

M - Eu já morri.

Menino Theo cresceu e nunca se esqueceu daquele dia. Descobriu que o velho marujo engarrafou a alegria dentro do vidro porque a mulher o abadonou, só queria saber de viajar. Era vaidosa demais, muito egoísta, e apesar de dizer que o amava, amava mais a si mesma. Ela dizia que sentia saudade, que era ruim demais ficar longe dele, mas se divertia muito sozinha. Não foi capaz de provar o seu amor. Ele deixou de acreditar, porque ninguém tem como saber que é amado se não recebe prova disso. O filho cometeu suicídio. A mãe morreu num acidente. E o pai? Nunca conheceu. No entanto, não foi nada dessas descobertas que marcou aquele dia.

Naquele mesmo dia que perdeu a bola, quando voltava pra casa já a noite, encontraram o velho morto. Foi enterrado como indigente. Em casa, Theo encontrou um embrulho no formato de uma bola no pé da escada. O cartão no laço dizia:

Amargura não mata não. O que mata é falta de amor.

E na parede da sua casa picharam:

Nenhum homem vive sem amor.

domingo, 15 de julho de 2012

De madrugada...

Não tem ninguém que conheça você como a madrugada. Nem você mesmo. De madrugada, do lado de fora nada se vê, mas do lado de dentro tudo acontece.

É a madrugada que vigia seu sono e espia seus sonhos. Dentro dela você se revela. Se está acordado, ela escuta os seus pensamentos e descobre todos os seus sentimentos. Se você chora, ela te abraça e com a escuridão profunda você acaba caindo no sono em meio a tantos soluços no breu. Se você sorri, ela te alimenta com um tempo de vento. E sem perceber, ela amanhece sem deixar de observar os mínimos traços seus.

A madrugada tão bela e calada... Embala as piores tristezas e as maiores alegrias. A espera pela certeza e as noites de agonia. Os tempos de fraqueza e os tempos de calmaria.

As lágrimas mais amargas - cujo peso torna qualquer travesseiro desconfortável - e os sorrisos mais sinceros - cujo semblante torna o sono mais afável.

Ah... Se as madrugadas fossem gente!

domingo, 8 de julho de 2012

Personagens inesperados

A madrugada chegou
A campanhia tocou

Me levantei e abri
Vi a saudade sorrir

Posso entrar? - perguntou
O silêncio imperou...
Respondi: não senhora
Fique bem aí de fora
Que tu pra mim não quero
Não é o que eu espero

A tristeza e a dor
Bateram com fervor
Vão embora! - eu gritei -
Passou da hora de vocês
Bem-vindos aqui não são
Procurem outro portão

O sorriso veio também
Junto com a alegria
Não deixei entrar ninguém
Nenhum deles eu queria

Felicidade é bom e dura pouco
Já diziam uns e outros

Aí... Aí...
Chegou o amor
Me fascinou
Me encantou

Deixei ele entrar
Sem nem desconfiar
Que todos os outros
Também entrariam