quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Dois


Se relacionar é como fazer uma longa viagem. Viajar é, de certo modo, crescer na intimidade. É infinitamente revelador cada detalhe das nossas reações aos momentos bons, ruins, leves, difíceis, decisivos ou não.

Escuto bastante as pessoas dizerem que se relacionar é complicado. Gosto de pensar que os relacionamentos passam por etapas, algumas dolorosas e outras nem tanto. É o processo de conhecer o outro que encanta ou desencanta. Muitas vezes descobrimos que o ali onde não faz brilhar os olhos é insignificante perto dali onde aquece o coração. Encontramos o equilíbrio na medida em que acolhemos o que nos é ofertado sem dimiuir o valor do ato de doar. Demandar atitudes que atendam às nossas expectativas adoece, porque a linguagem na qual amo e me sinto amada é tão peculiar que dificilmente ela é a mesma da sua. Como seres únicos que somos, precisamos ter a habilidade de ressignificar o gesto do outro para entender a magnitude com a qual somos amados sob o olhar dele.

O fato é que na linha do tempo os relacionamentos se solidificam, ou se enfraquecem, nos desafios que enfrentam. Conhecer uma pessoa é o que me torna capaz, afinal, de amá-la verdadeiramente – abraçando consciente suas qualidades e defeitos. Por isso, sem coexistência não há união: nas memórias colecionadas pelo convívio são fundamentados os ajustes basilares das nossas relações. Muito mais do que ceder, se relacionar é reconhecer as nuances particulares dos nossos momentos – do outro também – e respeitá-los.

E é então no ato de doar, conhecer, valorizar, ressignificar, compreender e respeitar que o amor, sólido pelo tempo, torna-se sólido na experiência de viver. A harmonia de se relacionar é sinônimo de acolher.