domingo, 30 de junho de 2013

Poesia a dois


Você sabe que gosta de alguém quando a companhia dele te faz bem; quando conversar com ele é tão agradável que nem se vê o tempo passar; quando escolhe ele pra ser seu companheiro de cinema; e quando até estudar as matérias chatas de ensino médio fica menos tedioso do lado dele (eu e você-amigo, quando a gente se conheceu).

Você sabe que ama um amigo quando percebe que escolheu ele pra vida toda e imagina-o comemorando junto a ti todas as etapas que ela tem; quando é ele seu ombro amigo, seu porto seguro; quando você o admira cada vez mais, à medida que o conhece; e quando vê que o sorriso dele faz o seu também (eu e você-melhor-amigo).

Você sabe que gosta de um homem quando uma mensagem dele causa borboletas na barriga; quando vê ele, lindo e perfumado, e seu coração bate mais forte, desejando um beijo; quando passa a querer que ele estivesse com você em qualquer ocasião; e quando torce pra ver ele todos os dias, ganhar um abraço e sentir seu cheirinho (eu e você-namorado).

Você sabe que se apaixonou por um homem quando se sente a mulher mais feliz e amada do mundo só porque ele te olhou diferente, colocou a mão na sua cintura, fez um carinho no seu cabelo, ou abriu a porta do carro pra você; quando o desejo, a saudade e a felicidade parecem não caber dentro do seu peito e você quer cantar pro mundo seu sentimento; quando estava desacreditado e começa a acreditar que o amor existe; e quando, deitada e acolhida em seus braços, todos os problemas desaparecem e seu coração se enche de calma (eu e você-príncipe).

Você sabe que ama um homem quando percebe que ele não é perfeito, mas o ama tanto quanto se fosse; quando vê nele um companheiro para as horas boas e ruins; quando não tem dúvida de que juntos vocês podem enfrentar qualquer coisa; quando está disposta a ser uma pessoa melhor por ele e vê que ele faz o mesmo por você (eu e você: o homem da minha vida).

Na poesia a dois, o amor é dualista: ora é utópico, ora realista. A chave do segredo é saber dosar: enquanto a fantasia adoça o sentimento, a realidade conduz o relacionamento.

Obrigada por quatro anos de maravilhas e realidades.

Te amo, Lê.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Andando na rua

Fim de tarde e de expediente. O sol se punha majestoso dando um espetáculo naquele dia frio de inverno. Melissa pegou suas coisas, desejou a todos um bom fim de semana e entrou no carro para ir embora.

O caminho para a academia era nada agradável. Muitos carros na rua e era preciso ter paciência com a lentidão tartaruguetária daquela hora. Mas às vezes o que mais incomodava mesmo eram as lembranças. Passava todo dia pelo parque de Ana. Lá vivera aventuras infantis: o medo do foguete, o balanço alto demais, e os escorregas que faziam cócegas na barriga.

O caminho da academia margeava todo o parque. O parque lhe trazia tantas memórias... Mel lembrava muito bem do dia que subiu numa árvore para apreciar um belo sorriso. Aprendeu que bater num poste dava muito mais dor de cabeça do que só o carro para consertar. E em meio às ruínas de um castelo, ganhou um beijo. Um beijo doce.

Pior foi um dia, que quando passava pelo banco escondido das árvores, a rádio cantou Veloso e ela lembrou de si mesma cantando: quando a gente gosta, é claro que a gente cuida. Sem entender o porquê de partirem seu coração, ela indagava-se como foi que o doce podia ter se transformado em amargo.

Naquele dia, na ida para a academia viu uma mulher atravessando a rua. Cabelos curtos - castanho escuro -, de saia e blazer pretos e de andar cansado em cima dos saltos. Na mão que segurava o celular ao ouvido, uma aliança prata. Na vida existem tantos encontros e desencontros, e muitas vezes a gente não sabe explicar o porquê das coisas. Melissa a viu atravessar a rua... A moça tinha nos lábios um sorriso de quem tem um beijo doce quando chega em casa. Do outro lado da linha, Melissa não podia ouvir, mas sabia que era o moço do beijo amargo.

Já se pegou indagando que as coisas acontecem e você não consegue acreditar que é pura coincidência? Pra quem é cético, o mundo não tem mistério nem magia. Mas pra mim não restam dúvidas de que os sentimentos e pensamentos possuem uma força magnética que o ser humano desconhece. 

Cada pessoa que passa na nossa vida deixa um rastro, uma lembrança, uma lição. E quando elas deixam de fazer parte da sua rotina, o que fica é um sentimento. Com o tempo, ele apaga ou perdura.  Só depende do que ela significou pra você: uma passagem ou uma presença, é o que faz a diferença entre ser esquecido ou permanecer na lembrança.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Infantil

Era uma vez um menino imbecil
A mãe disse - faz isso não, cuidado
E não deu outra, ele fez e caiu
Cortou a língua e ficou tudo inchado
O resultado?
Um bom tempo sem conseguir comer e se fazer entender

Era uma vez um menino imbecil
A mãe disse - por favor, faz assim não
Mas... Ele foi lá e? Fez. Pra mãe ele riu
Caiu e bateu com a cabeça no chão
Como se saiu?
Corre pro hospital, tá passando mal? Fica em observação...

Era uma vez um menino imbecil
A mãe disse - quer fazer? Vai lá e faz
Foi lá e fez, nada adiantava mais
Dessa vez foi um olho roxo que ficou
Mas a essa altura, ninguém se preocupou

Era uma vez um menino imbecil
A mãe já não dizia mais nada
Porque esgotou-se de ficar preocupada

Era uma vez um menino IMBECIL
Ele decidiu a vida que seguiu
A mãe visitou-lhe no caixão
Deu-lhe um adeus e o perdão

Afirmar que não se pode deixar o comportamento alheio te perturbar é fantasia. O ser humano é um poço de críticas... Alguns se afundam nelas, ficam cegos e acreditam que só as suas verdades valem. Outros sabem politizar, mas não sem ter a sua própria opinião. O restante, que não é nem um, nem outro, só passa pela vida sem deixar a marca das suas pegadas.

Conter um grito de raiva é tão difícil quanto tentar lidar com o que você não acredita. A diferença é que aquele extravasa enquanto este pondera. E às vezes não é simplesmente uma questão de escolha: se seu coração sente e a mente concorda, acorda... Você já perdeu.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O palhaço

Melissa fazia sua caminhada matinal quando decidiu sentar no banquinho da praça e observar o nascer do sol. Ela sempre gostou muito das paisagens que a natureza proporciona porque acredita que a beleza sobrenatural de algumas delas é uma forma de estar mais próxima de Deus.
Estava pronta pra ir embora, afinal já era chegada a hora de ir para a faculdade. Se levantou e topou com algo bem maior que ela. O palhaço de roupas largas, sapatos enormes e cores por todo o corpo tinha o rosto pintado com um sorriso e uma lágrima.

- Desculpa, não te vi moço - disse e ia saindo apressada.

- É Riso Triste - ele respondeu baixinho.

Ela se virou.

- Porquê? - perguntou.

Um segundo de silêncio se passou.

- Moça, minha vida era boa que é danada
Tinha amô, saúde, riqueza e alegria na minh' estrada
Uns perreguim aqui e outro ali
Mas nada que impidisse me divirtir

Um belo dia discubriru um mal em mim
E o dotô disse assim
Ocê pode vivê normalzim, se cuidar direitim

Levei a sério não, vivi do jeito que quis
Tudo do proibido, foi tudo que fiz

A escoia era minha, vivê ou morrê
Achei que vivendo a doença ia me esquecê

Hoje tô a beira da morte
Sem rumo, sem norte

Melissa se assustou. Não existe sutileza para falar da morte.

- Porque não volta da onde veio?

- Coragem? Tenho não
Vou caminhando ness' mundão
Buscando de Deus o perdão

Aviso não faltô
De todo mundo que me amô

Minha sina moça... Era fazê todo mundo ri sem pausa
Mas hoje muita gente chora por minha causa

Levantou-se e saiu cambaleando. De longe Melissa ouvia os soluços.

Ela não soube o que dizer. Sentiu-se de mãos atadas como todos aqueles que falaram e não foram escutados.

A vida é assim mesmo... Cada um tem dentro de si um aluno e um professor, de modo que só suas próprias escolhas definirão quem eles são.