quinta-feira, 27 de junho de 2013

Andando na rua

Fim de tarde e de expediente. O sol se punha majestoso dando um espetáculo naquele dia frio de inverno. Melissa pegou suas coisas, desejou a todos um bom fim de semana e entrou no carro para ir embora.

O caminho para a academia era nada agradável. Muitos carros na rua e era preciso ter paciência com a lentidão tartaruguetária daquela hora. Mas às vezes o que mais incomodava mesmo eram as lembranças. Passava todo dia pelo parque de Ana. Lá vivera aventuras infantis: o medo do foguete, o balanço alto demais, e os escorregas que faziam cócegas na barriga.

O caminho da academia margeava todo o parque. O parque lhe trazia tantas memórias... Mel lembrava muito bem do dia que subiu numa árvore para apreciar um belo sorriso. Aprendeu que bater num poste dava muito mais dor de cabeça do que só o carro para consertar. E em meio às ruínas de um castelo, ganhou um beijo. Um beijo doce.

Pior foi um dia, que quando passava pelo banco escondido das árvores, a rádio cantou Veloso e ela lembrou de si mesma cantando: quando a gente gosta, é claro que a gente cuida. Sem entender o porquê de partirem seu coração, ela indagava-se como foi que o doce podia ter se transformado em amargo.

Naquele dia, na ida para a academia viu uma mulher atravessando a rua. Cabelos curtos - castanho escuro -, de saia e blazer pretos e de andar cansado em cima dos saltos. Na mão que segurava o celular ao ouvido, uma aliança prata. Na vida existem tantos encontros e desencontros, e muitas vezes a gente não sabe explicar o porquê das coisas. Melissa a viu atravessar a rua... A moça tinha nos lábios um sorriso de quem tem um beijo doce quando chega em casa. Do outro lado da linha, Melissa não podia ouvir, mas sabia que era o moço do beijo amargo.

Já se pegou indagando que as coisas acontecem e você não consegue acreditar que é pura coincidência? Pra quem é cético, o mundo não tem mistério nem magia. Mas pra mim não restam dúvidas de que os sentimentos e pensamentos possuem uma força magnética que o ser humano desconhece. 

Cada pessoa que passa na nossa vida deixa um rastro, uma lembrança, uma lição. E quando elas deixam de fazer parte da sua rotina, o que fica é um sentimento. Com o tempo, ele apaga ou perdura.  Só depende do que ela significou pra você: uma passagem ou uma presença, é o que faz a diferença entre ser esquecido ou permanecer na lembrança.

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