quarta-feira, 3 de março de 2010

Sobre quebra-cabeças

Eu queria compartilhar as maravilhas de um quebra-cabeça. Eu me lembro muito, muito bem, de quando era ainda pequena e via meu pai quase todos os dias debruçado sobre a mesa da sala tentando encaixar aquelas minúsculas peças de um quebra-cabeça de nada mais, nada menos, que três mil peças. Eu pensava com toda certeza do mundo que ele ia desistir no meio da caminho, e que não ia terminar aquilo ali de jeito nenhum, ou eu não me chamava Letícia. E aí um dia, maravilhada porque ele já estava quase no fim, pensei: "Isso aqui deve ser muito bom... Porque se meu pai teve paciência de montar tudo isso, só pode ter uma razão - deve ser, no mínimo, legal". Lá estava eu, sentada numa das cadeiras olhando categoricamente as peças e tentando encaixar pelo menos uma - umazinha sequer. Pois não se passaram cinco minutos até eu perder a minha paciência e pensar: "Eu hein, credo! Que coisa mais chata!". E por um bom tempo não pensei em quebra-cabeças. Nem meu pai, aquele lá foi o último que me lembre, que o vi montando. Certo dia deparei-me com um quebra-cabeça sendo montado na casa do meu tio. Meus priminhos de 8 e 9 anos estavam tentando montá-lo: 500 peças, uma foto de animais no polo antártico, muito lindo por sinal. No outro dia quando eu voltei lá, o quebra-cabeça estava na caixa. Pedi permissão pra levá-lo e fazer uma nova tentativa. Eu precisava de alguma coisa pra passar o tempo. Depois desse montei, também em 500 peças, um navio, a Santa Ceia, em mil peças, e agora estou começando o Castelo na Neve, em 1500 peças. Nunca monto sozinha, quem está por perto sempre se deixa contagiar e me ajuda. Minha família, amigos, o namorado, e até mesmo visitas. De tato montar quebra-cabeças comecei a refletir. Se você passa um dia inteiro montando, no final do dia está cansado e já quase não consegue montar. Mas se você volta lá no outro dia a sua energia se renova. Fiquei pensando se fosse assim também na vida ... Se todo mundo tentasse com tanto ardor, como tentamos montar um quebra-cabeça, encaixar as peças da vida tudo seria mais simples. É preciso saber a hora de tentar e parar. É preciso saber a hora de correr atrás do prejuízo ou também a hora de relaxar o juízo. É preciso saber ajudar e saber ser ajudado, pedir ajuda. É preciso saber a hora de refletir, de ter mais paciência, ou de batalhar pela competência. É preciso saber das escolhas, as consequências. É preciso de vez em quando sair das meras reticências. E buscar o que no fundo parece impossível, mas que você sabe que um dia tornará-se crível. Montar um quebra-cabeça é fazer uma analogia da vida, porque é difícil você deixar um pela metade assim como na vida você não gostamos de coisas inacabadas. Se falta uma peça, você busca por ela pra se sentir completo. Se as peças são muito parecidas, fica difícil tomar uma decisão. A diferença é que nas peças da vida, dependendo de como você escolhe encaixá-las, você revoluciona a sua e a dos outros também.

2 comentários:

José disse...

Em relação às nossas vidas, seu comentário é pertinente. Adorei. Agora presta atenção numa coisa, revisa antes de publicar seus comentários.
Um cheiro do
Vô chato (Zezinho)

Anônimo disse...

Vale torcer também pra que as pessoas queiram montar os seus quebra-cabeças na vida. Tem gente que deixa coisa inacabadas e isso, indubitavelmente, afeta a vida de outras pessoas.
Adorei a sua reflexão, Lele! Beijão grandão!
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